PISTAS PARA ENTENDER O DEBATE NA FRONTEIRA DA TEORIA ECONÔMICA

   O ano de 2017 começou com surpresas nas áreas política e econômica. Não vamos falar do "cavalo de pau" da área política - já quase saturada pela mídia local e internacional e entregue aos sabores do "mercado". Na área econômica, entretanto, foi reintroduzido um debate, já sob os desdobramentos da crise financeira de 2007/8 e, quase esquecido no Brasil desde 1994, depois da implantação do Plano de Estabilização da Inflação (O chamado Plano Real) no Governo Itamar Franco: as CAUSAS DA INFLAÇÃO BRASILEIRA. Desde os idos dos anos 90, fora introduzido no Brasil o debate pela "independência do Banco Central". De fato, se estabeleceu "mandatos" de gestão para a Autoridade Monetária maiores que o mandato eletivo do Presidente da República. Porém, a discussão das funções "bi-fontes" do Banco Central (Banco do Governo e Banco dos Bancos), não logrou êxito.
   Em setembro de 2016 o Presidente do Banco Mundial, Paul Romer, publicou um artigo (1) questionando a rigidez do pensamento macroeconômico ortodoxo e a própria validade da "economia monetarista" como ciência; Nos EUA, o economista e professor da Stanford University, John Cochrane, já havia publicado um "trabalho acadêmico" em 2011 (2), onde parecia inverter a lógica monetarista para a causa da inflação: "ao elevar as taxas de juros em resposta a inflação, o Banco Central Americano (FED) induz inflação cada vez maior...". Cá entre nós, o professor e economista Lara Resende, replicou o debate (3), apontando que no longo prazo, juro alto eleva a inflação.
   A partir de então, sem entrar no mérito das causas estruturais do processo inflacionário brasileiro, entraram no debate diversas contribuições de economistas renomados - cada qual com sua propedêutica específica, conforme os links que seguem abaixo: Em 201/01/2017Marcos Lisboa e Samuel Pessoa (4); Em 27/01/2017 André Lara Resende (5); Em 03/02/2017 Eduardo Loyo (6); Em 10/02/2017 José Júlio Senna (7); Também em 10/02 o ex-Presidente do BACEN, Arminio Fraga Neto (8) argumentara que  "(...)  a teoria fiscal dos preços não é suficiente para explicar as mudanças da taxa de inflação em tempos mais normais. Ocorre que essa teoria se presta à construção de complexos modelos matemáticos que, em certos casos, especialmente quando os juros se encontram próximos de zero, sugerem a possibilidade de que um aumento da taxa de juros possa levar a um aumento da taxa de inflação.(...)", mas também não traça uma só linha sobre as causas da inflação; 
   Defeso a contribuição (9) de Luiz Belluzzo e Gabriel Galipolo, que 'precisaram' citar a entrevista do Economista Joseph Stiglitz ao Estadão (10).para concluirem que "(...) É preciso saber qual é a fonte da inflação. Se for excesso de demanda, aí você sobe os juros, porque tem que moderar a demanda. Mas se for um impulso por custos, você tem que ser cuidadoso. Nesse caso, a forma pela qual a alta de juros reduz a inflação é matando a economia (...)""recente entrevista de Ilan Goldfajn (11), presidente do Banco Central, alegandoe que o tamanho da queda do juro real no Brasil depende das reformas estruturais da economia (...) ao chamado “juro de equilíbrio”, que é aquela taxa básica real que nem acelera nem freia a economia. Porque é evidente que o BC pode baixar a Selic, a taxa básica, na marra, se estiver totalmente despreocupado com a inflação. O grande desafio, portanto, é baixar o juro real de equilíbrio no Brasil. Nunca faltaram, ao longo das últimas décadas, os vendedores de soluções mágicas para esse problema. Resumidamente, nessas “explicações” o juro é muito elevado porque alguma peça está fora de lugar no motor, e basta ajustá-la para que o Brasil volte à normalidade. Não é a qualidade geral do motor que é ruim, é apenas questão de dar uma guaribada. Na mesma entrevista, Ilan classificou esse tipo de ideia de “teorias do desejo”, que se opõem à dura realidade que o Banco Central tem de enfrentar.(...)". Pouco ou nada se se discute sobre as causas da inflação, salvo em círculos herméticos e acadêmicos.

   Mas estão, quais seriam as causas da inflação ? Segundo classificação da Comissão Econômica Para a America Latina e Caribenha - Órgão das Nações Unidas, criada em 1947, a classificação da inflação (12) é a seguinte: a) básicas ou estruturais: a mudança nos preços relativos, favorável aos bens ainda escassos, face a alguns preços rígidos, é a “causa última (primária)” da inflação; b) circunstanciais: devido a choques exógenos latentes ou inesperados; cabendo à política econômica minimizar propagação de seus efeitos e, c)cumulativas: induzidas pela própria inflação; tendem a acentuar sua intensidade de forma crescente, de acordo com a extensão e o ritmo da própria inflação.

(1)  https://paulromer.net/wp-content/uploads/2016/09/WP-Trouble.pdf
(2)   http://faculty.chicagobooth.edu/john.cochrane/research/papers/cochrane_taylor_rule_jpe_660817.pdf
(3)   http://www.valor.com.br/cultura/4834784/juros-e-conservadorismo-intelectual
(4)   http://www.valor.com.br/cultura/4842254/nada-de-novo-no-debate-monetario-no-brasil
(5)   http://www.valor.com.br/cultura/4849060/teoria-pratica-e-bom-senso
(6)   http://www.valor.com.br/cultura/4857030/neofisherianismo-vai-entender
(7)   http://www.valor.com.br/cultura/4864408/taxa-de-juros-e-inflacao
(8)   http://oglobo.globo.com/economia/o-debate-sobre-os-juros-no-brasil-por-arminio-fraga-neto-20903057
(9)   http://www.valor.com.br/opiniao/4860762/metas-de-inflacao-e-os-ardis-da-razao
(10) http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,o-bc-no-brasil-estrangula-a-economia,10000009585
(11) http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,os-juros-e-os-magicos,70001635019
(12) https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2014/12/12/analise-do-processo-inercial-da-inflacao/

3 comentários:

  1. Curioso, ao que parece, é que não é somente o Banco Central (Autoridade Monetária), que possuem "mandatos" de gestão maiores que o mandato eletivo do Presidente da República. Também o Ministério da Fazenda (Autoridade Fiscal) - dado o status de "guardião" de parte da "Política Econômica" (política monetária, política fiscal, política cambial e creditícia) - possui, "implicitamente", "mandato de supervisão", auxiliar, "independente" do mandato eletivo do Presidente da República. "Qual é a grande diferença entre a Era Social-desenvolvimentista (2003-2014) e a volta da Era Neoliberal (2015-16)? A queda da População Ocupada e a elevação do desemprego, justamente, a partir da posse do Joaquim Levy em janeiro de 2015." Confira-se que, os dados publicados pelo Banco Central do Brasil, tendo como fonte o IBGE, dão conta de que a partir da posse do Ministro Joaquim Levi, no Ministério da Fazenda em 2015. O Professor e Economista da Unicamp Fernando Nogueira Costa, responde as seguintes indagações, que reproduzo:

    01)"Em que ano o choque tarifário — liberalização de preços administrados — provocou o choque inflacionário com a taxa de inflação atingindo 10,7%, depois de dez anos abaixo do teto da meta? Em 2015, com a volta apologética de um neoliberal (Joaquim Levy) ao comando do MinFaz."

    02)"Qual foi o tratamento de choque fiscal aplicado pelos golpistas? Sabotagem da política econômica de Nelson Barbosa com aprovação de “pautas-bombas” no Congresso e impedimento do ajuste fiscal gradualista, seguido do tratamento de choque depressivo. Seu resultado (...) foi agravar, drasticamente, a queda da absorção doméstica do mercado interno, mesmo que a exportação líquida tenha reagido ao choque cambial de 2015 e à Grande Depressão de 2015-16 com a queda das importações maior do que a queda das exportações."

    03)"Qual é a grande diferença entre a Era Social-desenvolvimentista (2003-2014) e a volta da Era Neoliberal (2015-16)? A queda da População Ocupada (PO) e a elevação do desemprego, justamente, a partir da posse do Joaquim Levy em janeiro de 2015."

    Conclui:

    "O resto dos argumentos dos neoliberais é retórica ou denúncia vazia! Eles não provam com números estatísticos o falso argumento da defasagem precisa da “bomba-relógio”, supostamente, implantada pela Nova Matriz Macroeconômica dos novos-desenvolvimentistas!"

    "Agora, contra a Grande Depressão de 2015-2016, o causador principal — o Banco Central do Brasil com sua política de juros reais totalmente disparatada em relação ao resto do mundo (Selic real ex-post de 7,16% aa) — anuncia “band-aid” para estancar a sangria desatada!(...)"

    "De 2007 para cá, a proporção dos empréstimos direcionados no total de crédito bancário da economia passou de 35,6% para 50,1%, em grande parte devido ao uso dos bancos públicos como agente de políticas anticíclicas e como instrumento de fomento.
    (...)
    Os subsídios cruzados significam que parte da população, como os depositantes de caderneta de poupança e tomadores de crédito livre, estariam bancando parte dos juros mais baixos oferecidos em linhas de crédito mais baratas, como imobiliário e rural. Uai, esse altruísmo é necessário para financiar Habitações de Interesse Social — a maior parte do déficit habitacional — e a agricultura de subsistência pelo PRONAF. Ou que aumentar o número de sem-tetos e a fome da população pobre?!
    (...)

    (https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2016/12/29/oportunismo-liberalizante-da-velha-matriz-neoliberal/#more-46479)

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  2. Em 28/07/2013, Martin Feldstein, Professor de Havard, já buscara responder "Por que a Inflação dos EUA é tão baixa ?" (1), mesmo com um aumento do volume de "reservas excedentes" mantidas no Federal Reserve (FED - Banco Central estadunidense), passando de U$2 Bilhões em 2008 para U$1.8 Trilhões em 2012, sem que houvesse uma explosão inflacionária, como era de se esperar. Explica o catedrático que a política do "Quantative Easing" sofreu uma mudança institucional depois de 2008, isto é, o FED passou a pagar uma taxa de juros específica aos Bancos Comerciais que depositassem uma "reserva excedente" acima das reservas obrigatórias. Esta taxa de juros induziu os Bancos Comerciais a deixarem de fazer empréstimos às famílias e às empresas... Em lavra do próprio autor "(...)a fundamental shift in the Fed's rules in 2008 nullified the link between the purchase of securities and the subsequent monetary volume. As a result, the Fed bought a huge amount of bonds without making the currency reserves - and hence the rate of inflation - increase.
    The link between the purchase of securities and the cash reserves depends on the banks' "surplus of reserves" functioning. When the Fed buys Treasury Bonds or other assets, such as mortgage-backed bonds, the result is the creation of "reserves" for the banks that they deposit with the Fed.
    Commercial banks are required to maintain a level of reserves equivalent to a proportion of their deposits. By 2008, the Fed did not pay surplus reserve rates above the required amount, which encouraged banks to lend to individuals and businesses until the resulting growth in deposits depleted excess reserves. This increase in bank deposits was, by definition, a substantial increase in the cash reserves.
    An increase in bank lending allows households and businesses to increase their spending. This extra expense translates into an increase in nominal GDP (the value of production at market prices). Part of this increase in nominal GDP manifests itself as an increase in real GDP (adjusted for inflation), while the rest is manifested as inflation. Historically, it is in this way that the Fed's purchase of bonds caused an increase in currency reserves and in the rate of inflation.
    The bond between the bond purchase by the Fed and the consequent increase in monetary reserves changed after 2008 as the Fed began paying interest on the reserve surplus. The interest rate offered by these totally safe and liquid deposits prompted banks to keep reserve surpluses in the Fed's care rather than converting them into loans and creating deposits to absorb the increase in reserves as they would have done before 2008."

    Fonte: https://www.project-syndicate.org/commentary/the-inflationary-risk-of-us-commercial-bank-reserves-by-martin-feldstein

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